Capítulo 3
Otávio havia decorado o que iria dizer, mas por algum motivo o desespero tomou conta dele. Não se lembrava de mais nada, só que tinha que convencer a mãe de Monalisa de que ele seria bom para ela.
___ Eu vim pedir permissão para namorar sua filha. ___ Foi só o que ele conseguiu dizer.
Monalisa olhou para sua mãe mordendo o lábio inferior. Ela queria rir, aquilo era muito cômico, queria rir das palavras educadas de Otávio e de seu esforço para parecer outra pessoa, para parecer um daqueles garotos que agradam mais a sogra do que a própria namorada.
___ Vou te dar uma chance para provar se é ou não bom para minha filha. ___ Ela saiu de perto deixando Otávio e Monalisa sozinhos.
___ Droga, eu tinha decorado um texto tão bonito, fugiu da minha cabeça bem na hora que...
___ Tudo bem, ___ Monalisa disse o tranqüilizando, ___ está tudo resolvido agora, ___ ela riu.
Eles ficaram se olhando por alguns segundos .
___ Amanhã vou te buscar na escola de novo, tudo bem?
Monalisa fez que sim com a cabeça. Otávio sorriu e deu um beijo em sua testa como despedida, estava confuso, ansioso e tudo o que mais se podia imaginar.
Chegou em casa, deitou em sua cama e finalmente conseguiu relaxar. Eu podia ter lembrado, teria sido bem melhor. Pensou. Aquilo foi vergonhoso.
***
A semana passou rápido e a sexta-feira havia chegado. Monalisa iria dar uma volta na rua com o Otávio, e Fernanda havia combinado da sair com sua nova amiga, Evelyn. Eram oito e meia quando Otávio passou na casa de Monalisa para buscá-la. Juntos eles foram até a casa de Fernanda, eles iriam com ela até o Shopping onde ela havia combinado com a Evelyn.
Evelyn já estava lá, esperando, junto com alguns amigos, onde também estava o Luan. Fernanda e Evelyn sentaram em uma mesa na praça de alimentação e começaram a conversar animadamente. Luan olhava com desconfiança e desejando estar no lugar da Ivy.
Otávio estava em outra mesa com Monalisa também conversando.
___ Cor preferida? ___ Era vez da Evelyn perguntar.
___ Azul-marinho. A sua?
___ Hum... Misterioso... Gosto de roxo.
___ Interessante. Estação do ano? ___ Fernanda perguntou.
___ Outono.
___ Inverno.
___ Gosta de rock né? Qual gênero?
___ Hard. E você?
___ Grunge.
___ Legal, a Monalisa também adora. Eu curto um pouco também... Mas prefiro o hard rock mesmo.
___ Hum... Cansei desse jogo de perguntas. ___ Evelyn não queria mais fazer perguntas, estava ficando chato, e ela não queria ficar nem deixar Fernanda entediada.
___ O que podemos fazer então?
Evelyn não sabia, e havia percebido que não iria descobrir, só sabia que a presença de Fernanda era mais que agradável.
___ O que quer fazer?
Fernanda também não sabia e a salvação das duas foi, por incrível que pudesse parecer, a chegada de Luan.
___ E então meninas, o que... ___ foi um tombo engraçado. Luan nem havia completado a frase, caiu por cima da mesa e conseguiu derrubá-la. Levantou sem jeito. ___ Opa. ___ Foi o que conseguiu dizer, quando já estava vermelho de vergonha.
Monalisa e Otávio foram ajudar, ou melhor, caçoar do pobre coitado.
A noite havia sido perfeita, o tombo de Luan fez com que ela ficasse mais divertida. Evelyn acompanhou Fernanda até a casa dela.
___ Você é legal, Fê, gostei da sua companhia.
Fernanda apenas sorriu.
Otávio acompanhou Monalisa.
Monalisa chegou em casa meia-noite, ligou o computador e escreveu um último parágrafo da sua história, antes de enviar o arquivo para uma pasta intitulada “O que não me interessa mais (por enquanto)”.
“Não posso mais escrever, estou feliz demais, a felicidade atrapalha minha criatividade. Elisa não existe mais. Fim.”
Em seguida deitou em sua cama e adormeceu.
Ela acordou de um sonho confuso e agitado e se deparou com uma mulher alta, magra e com os cabelos loiros escorridos. O grito se formou em sua garganta, mas não mais que isso. Ficou muda.
___ Desculpe te acordar, Monalisa, mas é muito importante. Ah! E a propósito, não tente falar, você não vai conseguir. Venha comigo. ___ Monalisa agitou a cabeça em sinal negativo. Não pretendia ir a lugar algum com aquela mulher. ___ Venha logo, não temos tempo. Não vá dificultaras coisas, por favor. Não vou te fazer mal algum. Ande logo. ___ Monalisa não mexeu nem um músculo. ___ Você me obrigou, espero que o Calleb não me puna por isso.
Monalisa não sentia seu corpo, que involuntariamente seguia a mulher. Passou pela porta do quarto, depois pelo corredor, desceu a escada, atravessou a sala e chegou à porta de entrada. Como essa mulher entrou? A porta estava trancada! Monalisa pensava. A mulher abriu a porta e parada ali em frente estava um homem muito branco, parecia albino, de cabelos loiros prateados e olhos muito azuis, vestia um sobretudo branco até os pés, descalços. Era muito alto e muito magro.
___ Por que você demorar tanto? ___ O homem tinha um sotaque esquisito.
___ A garota dificultou. Agora não perca mais tempo, Luijí.
___ Eu precisar me concentrar. ___ O homem demorou apenas cinco segundos e assumiu a forma de Monalisa, era idêntica, inclusive a voz quando ele falou. ___ Eu estar convincente?
___ Totalmente. Agora vá.
Luijí, ou melhor, Monalisa entrou na casa, a mulher fechou a porta e em seguida a trancou com uma chave que tirou do bolso. O que era aquilo tudo? Como aquele homem esquisito se tornou uma pessoa igual a mim? Nada fazia sentido, Monalisa estava cada vez mais confusa.
A dominação da mulher sobre os atos de Monalisa cessaram quando elas entraram num carro. A menina disparou a fazer perguntas, mas a mulher falava calmamente com o motorista.
___ Tive que controlar a mente dela, mestre, ela não facilitou as coisas.
___ O que você queria que a garota fizesse? Seguisse uma mulher estranha que entrou na casa dela e estava tudo bem?
___ O que queria que eu fizesse.
___ Exatamente o que fez.
Em seguida a mulher olhou para Monalisa e mandou que ela parasse de falar.
___ Meu nome é Renata. Você está aqui porque possui um dom especial, assim como eu, o Calleb, ___ apontou para o motorista, ___ o Luijí e algumas outras pessoas. Não vamos fazer mal algum a você. Ah! E a propósito, o homem que você viu não se transformou em você, estava apenas confundindo a mente de quem olhasse para ele. E quanto a chave, bem, é uma chave mestra, abre a maioria das portas. Acho que respondi as suas perguntas. Sei que ainda não entendeu muito bem, mas tenha calma, já vai saber. ___ O carro parou, ___ chegamos!
Calleb e Renata desceram do carro e Monalisa os seguiu, desta vez por vontade própria. Entraram numa casa antiga que parecia estar abandonada. Reunidos em uma mesa estavam mais três pessoas, uma mulher de cabelos ruivos, um homem velho com barbas brancas, idêntico ao Calleb a não ser pelas roupas, e um garoto negro que parecia ter a idade de Monalisa.
___ Boa Noite, ___ Calleb disse ao entrar, ___ alguém poderia me dizer que horas são?
O garoto olhou as horas em seu relógio de pulso e disse com sua voz grossa e baixa.
___ São duas e catorze, mestre.
___ Obrigado, Ralf, não temos muito tempo. Sentem-se. ___ Calleb pediu mostrando duas cadeiras vagas à Renata e a Monalisa. Em seguida se sentou na cabeceira. ___ Mostre à ela Felícia.
A mulher ruiva estendeu um recorte de jornal para Monalisa.
“Elisa(14), filha do diretor executivo da Monteiro Seguros S.A., Victor Monteiro(54), morreu devido a fraturas graves na coluna, resultado de um tombo na escada de sua casa. Victor e sua mulher Anna(46) estão em tratamento psicológico. Leia mais na página 7.”
Monalisa ficou perplexa. Felícia explicou que a história que Monalisa escrevia acontecia de fato, e que não foi a felicidade dela que a deixou sem criatividade para continuar, e sim a morte de Elisa. O recorte de jornal era do dia anterior, quinta-feira, mas o tombo havia acontecido na quarta.
___ Então eu... Espera! Como sabe da minha história? ___ foi só o que Monalisa conseguiu perguntar.
___ Descobrimos que você tinha o dom de ler e controlar mentes porque não conseguimos ler a sua, então começamos a procurar provas. O Ralf é perito em computação, então conseguimos “dar uma olhadinha” no seus arquivos.
___ Foi mal. __ Ralf disse envergonhado.
___ Mas então como ela ___ e apontou para Renata ___ conseguiu me controlar.
___ Controlar é diferente de ler... ___ Renata disse. ___ E não pense que foi fácil! Só consegui porque você ainda não tem conhecimentos sobre bloqueio.
___ Pretendem me ensinar?
___ Com toda certeza, mas é melhor levarmos você de volta para casa. Não queremos confusão, e além do mais o Luijí deve estar de saco-cheio.
Monalisa chegou em casa as quatro e caminhou para o seu quarto. Percebeu que havia encontrado com todas aquelas pessoas vestindo seu pijama brega de coraçõezinhos que ela só usava para agradar sua mãe! Mas não ligou, estava com sono, Luijí estava sentado em sua cama, desta vez era mesmo o Luijí, não estava confundindo as mentes para parecer Monalisa. Ele levantou, a cumprimentou com um leve movimento com a cabeça e saiu. Monalisa olhou pela janela e viu Luijí entrando no carro e partindo. Se jogou na cama e adormeceu quase que imediatamente.
Acordou as onze e pensou que tudo não tivesse passado de um sonho, mas achou dentro do bolso do seu pijama que, na opinião dela, o deixava mais brega ainda, o recorte de jornal. Guardou o recorte de jornal e pensou em tudo ao mesmo tempo, tudo o que haviam falado com ela, o recorte de jornal, o fato de que ela estava escrevendo sobre uma pessoa que existia, na culpa que sentia pela morte de Elisa e no que aconteceria com Elisa se ela não tivesse morrido. Monalisa pretendia escrever que Gustavo fariz coisas ruins com Elisa, e então caiu a ficha, era isso que ele PRETENDIA fazer. Ele é um idiota! Não é uma boa pessoa. Não quis mais pensar naquilo. Depois seus pensamentos se voltaram às pessoas que estavam na casa, reunidas, a ruiva se chamava Felícia, a mulher que a buscara se chamava Renata, tinha também o Calleb, que era o chefe e o Ralf, maldito Ralf que havia xeretado seu computador. O que mais ele sabia sobre ela? E então se lembrou de que havia conversas do Messenger salvas, textos que ela escrevia sobre ela mesma e tantas outras coisas... Filho da Puta! Ela pensou, mas depois sentiu pena da mãe do menino. Também não esquecera o Luijí, ele devia ser muito bom em confundir mentes. E no homem idêntico à Calleb, que ela não sabia o nome e que também não havia dito nada durante todo o tempo que ela esteve na casa. Tudo o que estava acontecendo era bem louco, nada fazia sentido, e algo dizia à ela que não seria uma boa contar a alguém, nem mesmo a Fernanda ou Otávio. De repente sentiu uma vontade enorme de ler a mente de Otávio, mas ainda não sabia como fazer, quando o fazia era sem querer, e também, não seria cômodo, Otávio era uma boa pessoa, ela sentia isso, não era como o Gustavo. A confusão de seus pensamentos em sua mente a fez ficar tonta, se jogou na cama e dormiu por mais meia hora, até ser acordada por batidas muito fortes na porta de seu quarto. Era João, seu irmão mais novo, mais uma vez não à deixando em paz. Ela levantou com raiva e abriu a porta quase arrancando a maçaneta.
___ O que foi pentelho? ___ Perguntou sem paciência.
___ Já é tarde, se continuar assim vai passar da hora do almoço.
Infelizmente João tinha razão, não podia dar a entender que ficara acordada quase que a noite inteira.
___ Já acordei, peste, agora dá o fora daqui!
João mostrou a língua e saiu rindo. Monalisa não via graça alguma. Que demente! Não pode ser meu irmão! Ela disse para si mesma.
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Como prometido, está aí o capítulo 3! Espero que gostem... *-*
Beijos, Wasp!!
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
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